quarta-feira, 25 de julho de 2007

Postura..........


Quando o paenso dói
O excesso de quilos no corpo não é o único culpado, mas sobrecarrega a coluna e pode piorar um problema que afeta oito em cada dez pessoas do planeta: a dor nas costas

POR MARIANA VIKTOR


É fato: de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 80% da população mundial tem ou terá dor nas costas. Além da pressão natural da gravidade sobre a coluna de quem anda sobre duas pernas, a estrutura vertebral é solicitada o tempo todo – quando a gente senta, caminha, fica em pé, abaixa, levanta, corre. “Se você não se preocupa com a postura, é sedentária, anda estressada e está bem acima do seu peso ideal, com certeza faz parte da estatística dos 80%”, diz Mariângela Pinheiro de Lima, da Clínica Corpo, de Florianópolis, SC, que foi fisioterapeuta do tenista Gustavo Kuerten, o Guga.

Sobrecarga muscular

O fato de ser magra e praticar atividade física não garante que a pessoa se livre da dor nas costas, mas o peso extra certamente agrava o problema. “Em especial quando se concentra na região do abdômen, o excesso de gordura desloca o centro de gravidade da coluna para a frente, sobrecarregando a musculatura das costas”, diz o médico reumatologista José Goldenberg, professor livre-docente da Universidade Federal de São Paulo (USP), em seu livro Coluna Ponto e Vírgula (Editora Atheneu).

Além de sobrecarregar os músculos das costas (o que por si só já é motivo de dores e de tensão muscular), o deslocamento do centro de gravidade favorece posturas inadequadas. A má postura, por sua vez, provoca um desequilíbrio na estrutura corporal, gerando, com o tempo, problemas de coluna, explica a fisioterapeuta Mariângela Lima. “Para realizar até as atividades mais simples, como pegar um objeto no chão ou sair do carro, a coluna vertebral precisa de flexibilidade e estabilidade, que resultam da combinação entre força e alongamento de vários grupos musculares, sobretudo das costas e do abdômen”.

Quando os músculos abdominais perdem a força, a região lombar tende a se projetar para a frente, formando uma hiperlordose. Sempre que a curvatura natural da coluna se acentua, seu comprimento diminui, assim como os espasços entre as vértebras, ressalta Mariângela. Isso também causa encurtamento muscular, dificultando os movimentos. Dobrar o corpo para a frente, por exemplo, fica mais difícil – e, se você insistir em fazer esse movimento, pode sofrer um estiramento muscular. A falta de flexibilidade vai aos poucos pinçando nervos e causando desgaste nas articulações. Resultado: mais dor.

Olha a coluna, menina!

“Então o sobrepeso limita a capacidade de movimento e de exercício, fazendo com que a gente fique menos flexível e tenha mais dificuldade em manter uma boa postura, sentada ou em pé. E a falta de alinhamento abre a porta para novos problemas e novas dores”, alerta Mariângela. Se, além de engordar, a mulher tiver seios grandes e não cuidar da postura, a tendência é que a região superior de suas costas se curve para frente, podendo resultar numa hipercifose.

Todos os problemas de postura que acentuam ou alteram a curvatura natural da coluna fazem com que seu comprimento seja reduzido, o que por si só já é impactante. “Por isso, pessoas com problemas na coluna devem evitar atividades físicas que causem ainda mais impacto, como corrida e esportes, nas quais é necessário pular. Os músculos, que já estão tensos por causa do encurtamento, vão se tensionar ainda mais. E se houver algum pinçamento de nervo com dor irradiada, o problema vai se acentuar”, adverte a ex-fisioterapeuta de Guga.

Dez quilos de sobrepeso são suficientes para afetar a coluna, principalmente se a mulher já teve filhos, pois a gestação altera a conformação da bacia e acentua a lordose lombar (a curvatura natural do fim da coluna). “Essa lordose muitas vezes não regride por si só depois do parto – é preciso fazer fisioterapia pra voltar ao normal”, explica o fisiatra e acupunturista Chen Chieng Yuan, médico-assistente no Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo e coordenador do Hospital Estadual Diadema, vinculado a Unicef.

O xis da questão

Nem sempre é possível descobrir a origem da dor na coluna. “Somente 15% das lombalgias, ou seja, das dores lombares, são diagnosticáveis: hérnia de disco, escorregamento de vértebra, estreitamento do canal da medula, tumor, fratura”, observa Chen Yuan, que também foi pesquisador do Grupo de Dor do Hospital das Clínicas de São Paulo. “Em 85% dos casos tudo o que se consegue identificar é um grande espasmo muscular, que causa muita dor”. Chen explica que o problema é causado pela musculatura sobrecarregada quando a pessoa fica muitas horas sentada ou senta “largada”, de qualquer jeito, permanece em pé, por muito tempo ou de forma incorreta, ou adota posições inadequadas durante o sono – dormir de bruços, por exemplo.

O estresse é outro vilão – e uma de suas vítimas prediletas é a musculatura das costas, órgão de choque comum das emoções. Quando estamos estressados, a tensão pode causar contrações e dores. “Geralmente as áreas mais atingidas são o pescoço e o meio das costas, acima do bumbum”, diz a fisioterapeuta Mariângela Lima.

Quando se está estressado, a tendência é manter os ombros erguidos, dormir mal e acordar com dor no pescoço, porque os músculos estavam tensos e você comprimiu algum nervo ou estirou um músculo durante o sono.

Nenhum comentário: